Aluno de biologia da UFPA, bolsista do Instituto Evandro Chagas e estagiário do Laboratório de Neuroendócrinologia

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

ELDORADO

Uma Pausa para o mês que não deveria existir. O mês cujo desejo, assim como fôra o de Vinícius em relação ao ano de 1973, é o de que este mês "triste e sem sorte, vá pra puta que o pariu!"





"Meus olhos são pequenos para ver
toda essa força aguda e martelante
a rebentar do chão e das vidraças,
ou do ar, das ruas cheias e do beco.

Meus olhos são pequenos para ver
tudo que uma hora tem, quando madura,
tudo que cabe em ti, na tua palma,
ó povo! Que no mundo te dispersas(...)"





Abril que vem chegando, não chegue nunca! Pois há onze anos, tu não te fostes. Moras embrenhado na mistura de cinza-escuro-vermelho de massas encefálicas, sangue e terra, muita terra na ironia dos que não a possuem.

Jamais andarei denovo pela PA-150, pois tenho a mórbida impressão de que por lá, espalhado em seu asfalto de quinto mundo, ainda se encontram bonés perfurados por projéteis plumbicos supersônicos, cérebros espatifados, arrastados sobre seu plano irregular, escrevendo, como um giz, a sangrenta letra "S".

Só de lembrar, ouço, ocasionalmente, o grito de Amâncio que sendo surdo, gritou o que os verdadeiros surdos não suportaram ouvir:




"VIVA O MST!!!" "VIVA O MST!!!"


As balas se revolucionam, espatifam de falanges a esternos e ofendem, no mais alto som, a cada um dos milhões de indivídous que sobreviem à margem fria e enferrujada do arame farpado.

Mas em algum lugar nos corações e mentes de nossos filhos, se afia a grande e impiedosa lâmina da história.

Existe um espaço úmido e frio, superlotado, com sufaqueiras fétidas, machos tarados, estupradores de mães e avós, esfoladores de criancinhas, decepadores inatos da humana substância chamada "carne", para cada um de vós, direta e indiretamente, envolvidos com as mortes, que trouxeram mais mortes e que continuam a trazer tristes mortes para alem dos 19, no eufemismo dos números oficiais, aos filhos inocentes, cuspidos de placentas miseráveis, do regaço dessa "mãe gentil".

Lembremos, então, como heróis unilaterais dessa epopéia chamada "luta", os nomes dos cadáveres que encontramos, um dia depois, mas ainda nesse maldito mês de abril, num caminhão a céu aberto, num banquete de moscas, plantando, com a paciência de lavradores, a esperança de justiça.

O animus necandi do Estado latifundiário, na pessoa de seu braço militar, canonizou:
Altamiro Ricardo da Silva
Antônio Costa Dias
Raimundo Lopes Pereira
Leonardo Batista de Almeida
Graciano Olímpio de Souza
José Ribamar Alves de Souza
Manoel Gomes de Souza
Lourival da Costa Santana
Antônio Alves da Cruz
Abílio Alves Rabelo
João Carneiro da Silva
Antonio("irmão")
João Alves da Silva
Robson Vitor Sobrinho
Amâncio Rodrigues dos Santos
Valdemir Pereira da Silva
Joaquim Pereira Veras
João Rodrigues Araújo
Oziel Alves Pereira
"Presente! Eternamente presente!"


Adeus, irmãos. Seus nomes falam por si e dizem muito mais que meros dizeres, nos contam, sutilmente, dos tijolos sobre os quais se constrói a liberdade!

Belém, março de 2006

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