Aluno de biologia da UFPA, bolsista do Instituto Evandro Chagas e estagiário do Laboratório de Neuroendócrinologia

quarta-feira, 14 de abril de 2010

REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS DE ALIANÇA

Entrei no PT em 2000 quando tinha 15 anos. Lembro bem que as discussões da época enfatizavam muito a filosofia por trás das políticas de alianças. Ainda não existia o PSOL. A CST, MES e FS (atualmente APS) ainda estavam no PT. A disputa sobre a questão das alianças no PT variava daqueles como o Babá e Luciana Genro que eram contra a chamada "Frente Popular" e defendiam aliança apenas com o PC do B, PCB e PSTU; Aqueles como o Edimilson, Olívio Dutra, Raul Pont que defendiam alargar essas alianças a um campo dito "Democrático e Popular" que incluía o PDT, o PPS e o PSB, e aqueles que não viam problema em se aliar com pequenos partidos de direita como o PV, PR, PTB, PMN, PSC e, ainda, os mais extremos, como Zé Dirceu, que defendiam aliança com o PMDB.

Essa fase de vida do PT era anterior à conquista da presidência e contávamos apenas com experiências de governos e prefeituras e com a história de outros países do planeta. Cada um de seu jeito e baseado em filosofias e espelhados em episódios da história (como da frente de combate ao nazi-fascismo na Europa) concluía até onde o PT poderia ceder em seu programa e em suas alianças para conquistar espaços institucionais.

Como a maioria das outras questões de fundo histórico-fisolófico no PT, houve pouca resolução e nenhum setor definitivamente "aprovou" quais seriam os limites das alianças petista. Houve uma evolução gradual e as experiências concretas apontaram rumos. Setores deixaram o partido, conquistamos a presidência, ocorreu a chamada "crise de 2005" e entramos numa nova síntese sobre as políticas de alianças que talvez careçam mais reflexões coletivas. De certo, o PT é consensual em três questões:

1) Isolamos a direita neoliberal em dois partidos que são a expressão máxima do projeto que morreu em 2002 - O PSDB e o DEM. As alianças do PT, de maneira geral, visam derrotar esses dois partidos e o projeto que eles claramente representam em seus governos, parlamentares e prefeituras e nos 8 anos que governaram o Brasil;

2) Construímos um horizonte mais estratégico e programático com o PC do B e o PSB, fortalecidos em torno de nossas experiências de governos;

3) Buscamos sempre uma ampla articulação de partidos para viabilizar a hegemonia de nosso projeto e a eleição e re-eleição de nossos governos, sem grandes pré-concepções de quem "pode" ou não "pode" estar nessa "frente". Assim o PT se abriu para alianças com o PR, o PMDB, PDT etc. entendendo também que essas alianças são fundamentais para garantir maioria no parlamento e até vitórias eleitorais.


Esses três pontos, no entanto, deixam algumas lacunas para uma melhor síntese programática sobre políticas de alianças. Por exemplo, na ultima questão. Reconhecemos a necessidade de se aliar com setores claramente opostos ao nosso projeto, que historicamente foram de direita e compuseram os governos anteriores do PSDB como a única forma de assegurar a vitória (eleitoral ou parlamentar), mas não discutimos a fronteira dessa aliança. Até que momento esses partidos estão negando sua história e nos apoiando em troca de questões táticas e até que ponto nós podemos nos considerar do "mesmo lado" sem negar a nossa própria história.

Pelo outro lado, a não definição dessa fronteira abre margem a uma concepção equivocada de setores do partido que começam a considerar partidos historicamente da direita como aliados estratégicos e programáticos, principalmente o PMDB. Começam a cavar pequenas lacunas no programa do PMDB e em sua história para classificá-los como "menos piores", "mais democráticos", "progressistas" e assim até considerá-los "companheiros" e "aliados históricos" e se cegar diante da clara fronteira que existe entre um projeto socialista, democrático como do PT e a "essência" do que é o PMDB e outros partidos que são de nossa base aliada (nacional e estadual).

Isso é importante enfatizar, para lembrar o porquê de sermos petistas. Fazemos alianças sim, como disse antes, para garantir a governabilidade e derrotar a direção do projeto neoliberal do Brasil. Mas somos contra o latifúndio, a corrupção, o voto de cabresto, o governo das elites e toda a essência que são os partidos como o PMDB. Por isso que toda aliança com esses partidos envolve um equilíbrio dinâmico, a dose certa entra entre as concessões que fazemos e o resultado que isso rende ao nosso projeto.

Nesse equilíbrio não existe fórmula de quando “romper”. Mas um bom ponto de partida é mantermos firmeza ideológica em nossas diferenças e do tipo de país e governo que queremos e defendemos. Às vezes a firmeza necessária é condição suficiente para ruptura ou não a “pactuação” da nossa parte, como por exemplo, não aceitarmos o mau uso da coisa pública o favorecimento pessoal ou coisa do gênero. Da parte deles, em geral, o vislumbre de qualquer oportunidade de tomar as rédeas e derrotar um governo de natureza popular que são obrigados a engolir já é o suficiente para romper. Não devemos encarar nem no Brasil e nem no Pará estar com o PMDB e partidos de seu campo político como única oportunidade de vitória do nosso projeto, mas simplesmente o contrário, eles estão conosco porque o povo deu a maioria ao Lula e à Ana Júlia e a única chance de terem estrutura e participação no governo é se aliando com o PT. Uma aliança com o PMDB fortalece a nossa candidatura, na mesma medida em que nos impõe a necessidade de sermos vigilantes e não cairmos no conto de que eles sempre foram e sempre serão nossos aliados, porque uma hora ou outra teremos que nos enfrentar para garantir a vitória do projeto democrático e popular no Brasil.

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