Aluno de biologia da UFPA, bolsista do Instituto Evandro Chagas e estagiário do Laboratório de Neuroendócrinologia

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

AS AGRICULTURAS NO DEBATE ELEITORAL

Classicamente, em análises sobre o campo no Brasil e em países pobres como a Índia, diferenciam-se dois sistemas de produção: o patronal e o familiar. Entre ambos, ocorrem muitas ideologias e personagens, cujas interpretações econômicas e filosóficas configuram visões de mundo com implicações naquilo que se projeta como modelo produtivo, tecnológico e ambiental.

Embora muitas vezes o antagonismo entre o agronegócio a agricultura camponesa seja uma simplificação insuficiente para descrever a realidade do campo, muito pior, ao meu ver, é a tentativa de “inserir” a agricultura familiar como componente subalterno do agronegócio. Fato que percebo em muitas propostas de candidaturas quando discutem a temática agrária (talvez ela até apareça hoje no debate entre os presidenciáveis).

A visão à qual me refiro é a que defende um modelo produtivo baseado em grandes empresas de monocultura que “dominam” uma área e estabelecem uma relação com a agricultura camponesa da localidade, induzindo os agricultores a produzirem o monocultivo em questão (exemplo da laranja no sudeste), oferecem assistência técnica, financiamento e compram toda produção (inclusive antes de estar plantada).

Em todos os exemplos concretos em que tal ciclo econômico foi empregado, como no município de Moju, muitas vezes com pesados incentivos públicos, o que se percebe é a decadência da agricultura camponesa da localidade, a intensificação da pobreza rural e a profunda vulnerabilidade dos agricultores em relação à empresa. Em geral, esses empreendimentos são desenvolvidos com produtos de baixo custo e que demandam muito esforço produtivo. As empresas tomam vantagem da jornada ininterrupta dos agricultores sem precisar pagar direitos trabalhistas, disciplinam a produção e aumentam a dependência tecnológica da agricultura familiar.

O agricultor perde progressivamente sua produtividade (efeitos da monocultura), depende cada vez mais de insumos, se endivida e tem uma crescente dificuldade em manter a produção exigida pela empresa. Há, alem disso, muitos efeitos nocivos ao meio ambiente, impactos na disponibilidade de alimentos e no abastecimento do mercado local. Por esses e outros motivos, acho necessário enfatizar que é um grande erro “investir” na agricultura familiar como um componente subalterno do agronegócio como candidatos estão se propondo a fazer.

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